06 dezembro, 2006

SOU

 

SOU uma
SOU tantas
SOU todas em uma
SOU eu
em nenhuma...

23 novembro, 2006

Anjo decaído


Anjo
decaído por um sonho de amor
banido
dos portões celestiais
por uma fagulha de paixão

sensibilidade
herdada de arcanjos cuj'alma
transmutou em sementes de gozo e fertilidade

anjo da paixão
feiticeiro do prazer
alquimista
do elixir da sensualidade pura
compositor das sinfonias mais belas
que cantam o amor

tua mácula
é meu condão
que me inspira
preencher
as lacunas do coração

teu hálito
em minha boca
faz
renascer em mim as asas
um dia perdidas
que me levaram à liberdade
liberdade de sentir-me
mulher

teus beijos
em meu pescoço
aguçam
o olfato do meu aroma feminino

um arrepio percorre
meu casulo
e aflora a vontade de voar
e num sopro de vida
bato asas
sou borboleta,
livre vou a colorir o caminho
ao reencontro da vida

11 setembro, 2006

poemas nas nuvens


deixo poemas nas nuvens
e como chuva molham as ladeiras
escorrem pelos bueiros
as letras menos compromissadas
com sorte, seguem ao mar
onde bailam com as ondas
e tornam-se livres...

30 agosto, 2006

PAI

Transformou a menina
Semente de gente
Em planta com longas raízes
Fincada no tempo
Fez-me forte
Independente

Mostrou-me a solicitude do tempo
A impertinência humana

Ensinou-me que a vida
Mais que imagens coloridas
É luta, fel, dissabor...
Mas essencial ensinamento
Foi que vale ser vivida
Com coragem, alegria e amor...

23 agosto, 2006

Anjo travestido

















Acordei com a melodia de um rouxinol na janela
Apesar do frio, o sol trouxe disposição ao pequeno alado
Que o destino colocou em meu caminho...

Aquela melodia me fez acordar com brilho nos olhos
Sua motivação me fez entender o ciclo da vida
A simplicidade de tão pequeno ser,
Fez lembrar quão pequeno somos diante do mundo...

Acho que, às vezes, Deus nos manda anjos travestidos
Para que com um simples gesto
Nos lembrem que devemos ser felizes e celebrar a vida
SEMPRE!!!

20 agosto, 2006

Poema-resposta


Menino triste
Vá ao encontro das nuvens errantes...
Nelas, encontrarás os sorrisos guardados,
os olhares furtados e amores abortados.
Deixe, menino, que de ti se aproximem todos que te amam
E assim, no fundo d'alma, todo teu ser se iluminará
e sentirás o torpor do mais sublime sentimento...
E mutado a sorriso será teu triste semblante!
Esse poema foi inspirado na poesia do Hay, um amigo muito querido, dono também desta bela imagem.

10 agosto, 2006

Dicotomia do ser














Dicotomia do ser
Corpo, alma e o que mais?
Laços de afetividade e amor
Transformam-no insubstituível
Incongruência de idéias
Desta dita bela vida
Destino
Quimera do amanhecer
Sonho
Utopia em renascer
Ser que se enche de um monte de coisas
E continua vazio.
Viver tudo...
Isso é essencial!

09 agosto, 2006

Quero plantar a flor da paz














Quero plantar a flor da paz
E ser adulto no modo de agir
Mas sempre criança na maneira de ser
Porque quero ser feliz
Quero todo o amor que quiserem me ofertar
Quero todas as aves do céu
E a brisa fresca do mar
Quero todas as estrelas
Quero o eterno luar
Para quando morrer
Pra sempre
meus amigos iluminar!

05 agosto, 2006

Sou feliz porque sou



Sou feliz porque sou
Não necessito razões
Mas, se quiseres realmente saber...
Sou feliz porque tenho amigos
Sou feliz porque tenho uma família
Sou feliz porque sou mãe
Sou feliz porque todos os dias acordo com vontade de ser
Sou feliz porque o sol me aquece
Sou feliz porque os pássaros cantam
Sou feliz porque tenho saúde
Sou feliz porque não passo fome
Sou feliz porque tenho trabalho
Sou feliz porque adoro a vida
Sou feliz porque chove e faz frio e tenho uma casa e um cobertor
Sou feliz porque sempre posso aprender
Sou feliz porque Deus me deu a dádiva de amar
E ser amada
Sou feliz...
porque sou!

03 agosto, 2006

Primavera da Vida














Obrigada Deus
por meus 21 anos de existência
cada sorriso
cada amigo
que tive
que tenho
cada amor
cada dor
que senti
que sinto
cada alegria
cada tristeza
que fez
que faz
de mim um ser
melhor e mais forte
a cada obstáculo
a cada saída
Obrigada
por minha família
o fundamental
o elementar
sem a qual
não seria
quem sou
caráter
força
moral
magia
confundem-se no meu ser
peço,
que nunca deixe de existir dentro de mim
a criança
a amiga
a irmã
a filha
a professora
enfim...
todos os papéis que fazem de mim única.
Obrigada Senhor
por estar todos os dias
me vigiando
me guardando
e abençoando
não por 21 anos,
mas em toda minha existência...
Nesse dia, em que me sinto mais forte e inabalável
só o que peço
é para que Tu protejas todas as pessoas da minha vida,
que são anjos por Ti enviados para de mim cuidar
e me mostrar o sentido que a vida tem...
AMAR!


OBS: Escrevi este poema em 30/04/1999. Hoje, com 28 anos, 7 após ter escrito este singelo poema, fiquei muito emocionada quando minha mãe me presenteou com esta poesia que tinha guardado com muito carinho. E, por tanta felicidade em ver que ainda tenho tudo o que amo e muito mais, pois hoje sou também MÃE..., desejo dividir com vocês, leitores e amigos que tanto somam à minha vida.

21 junho, 2006











Sou estrela no céu
Tão próxima
Que posso ser tocada com as mãos
Tão longe
Inatingível
Que só posso ser abraçada pelo sonho

Tu és sol,
Astro-rei
Que me ofusca com tua luz
Quero a lua,
Seminua
Pra mostrar que posso ser

Eterna

01 junho, 2006

haikai














gaivota no céu
a cortar o ar
vôo da liberdade

27 maio, 2006

Saudades















(imagem de uma rua de Lisboa que ganhei do amigo Hay especialmente para postar junto a esta poesia)

Tenho saudades...
daquele pôr-do-sol avermelhado,
daquelas tardes de prosa nos galhos da ameixeira
daqueles cachorros, tão pequenos, tão grandes
da imaginação que tornava os dias mais coloridos
dos lápis de cor e canetinhas que coloriam os desenhos
e inventavam personagens, estórias e novas emoções
das musiquetas cantadas sem pudores, com todo coração
dos acampamentos e fogos de conselho escoteiros
das brincadeiras de queimada no recreio da escola
das histórias que minha avó contava
do meu primeiro beijo
dos bolinhos de chuva do meu avô
de andar de pés descalços e
tomar banho de chuva até ficar com as pontas dos dedos murchas
de ficar a tarde inteira no clube e chegar em casa morrendo de fome
de brincar de esconde-esconde com os primos na casa de praia da minha avó
de ganhar estrelinha na escola por nota boa e bom comportamento

tenho saudades de mim...

sou, por herança, sonhadora
por isso revejo minha infância, pelos olhos de minha filha
e o que de melhor posso desejar
é que a infância dela seja
tão feliz quanto a minha!

26 maio, 2006

Muitas vidas


Marco ficou na ponta dos pés. Apesar de estar maior do que no mês anterior (sua mãe vive dizendo que cresce feito batatinha...), não conseguia enxergar através da janelinha da porta. Olhou pra trás, e, como não via ninguém, adentrou o quarto onde seu avô, já muito pálido “pela falta de sol”, como explicava. Estava recostado, lendo.

Seu Savassi olhou por cima dos óculos, e foi como se o sol se abrisse num dia nublado... seu sorriso expressou sua alegria ao ver seu neto tão amado. “Já é quase um homem”, pensou.

O filho de sua única filha se aproximou e, como sempre fazia desde pequeno, beijou-lhe a testa.

A conversa entre eles, apesar da tamanha diferença de idade, fluía. Sempre tinham muito a dizer e contar um ao outro. Eram bons amigos. E dessa vez não foi diferente: Marco queria saber como seu avô conhecia tantos lugares e sabia tantas coisas do mundo...

Foi então que seu Savassi contou-lhe que, durante muitos anos, vivera em países distantes, conhecendo lugares surpreendentes e línguas e culturas maravilhosas...

Sua primeira paixão, a França. Contou-lhe sobre Paris, seu cafés, suas gente. Depois, discorreu sobre o Egito, com suas pirâmides, seus monumentos e toda a história e os mistérios contidos lá. Falou sobre a Inglaterra, a Índia, e muitos outros países com riqueza de detalhes. Mencionou as comidas, os cheiros, as artes, a música, as enebriantes sensações.

Em sua imaginação, Marco fez uma rápida viagem, na qual visualizava cada ponto turístico, imaginava as pessoas, os costumes, as diferentes línguas...

Estava admirado. Sabia que seu avô tinha muita cultura, mas também sabia da situação financeira da família. Como seu avô poderia ter ido a tantos lugares? Conhecer tantas línguas? Ter experimentado tantas comidas diferentes? E por que nunca lhe contara nada? Nem vovó e mamãe! Por que nunca comentaram nada com ele?

Ele precisaria de muitas vidas para tudo isso, concluiu.

Vendo o questionamento no olhar de seu neto, Savassi pousou um olhar pensativo no horizonte e, como se estivesse recordando bons momentos, disse-lhe:

- Venha cá, meu filho. Quero dar as passagens para que você possa também conhecer tantos lugares. Está naquele canto. Vá até lá e pegue.

Marco não pode conter a ansiedade e correu ao local indicado pelo avô, chegando a uma pilha de livros. Os títulos, os mais variados: “Conheça Paris”, “Viaje à Europa sem sair do lugar”, “Mistérios do Taj Mahal”,...

Marco compreendeu. Virou-se para seu avô. Queria agradecer-lhe... mas este já havia partido para sua última viagem...

24 maio, 2006

Cinco manias

Mania
[Do gr. manía, 'loucura'.]
S. f.
1. Psiq. Síndrome mental caracterizada por exaltação eufórica do humor, excitação psíquica, hiperatividade, insônia, etc., e, em certos casos, agitação motora em grau variável.
2. Psiq. Uma das duas fases alternativas da psicose maníaco-depressiva (q. v.).
3. Fig. Excentricidade, extravagância, esquisitice.
4. Gosto exagerado ou imoderado por alguma coisa; obcecação resultante de desejo imoderado
5. O alvo desse gosto ou desejo
6. Mau costume; hábito prejudicial; vício
7. Idéia fixa doentia; obsessão
(Dicionário Aurélio – Século XXI)

Confesso que fiquei um pouco pensativa após ler a definição apresentada pelo Dicionário, e achei que meu caso se enquadra apenas no nº 3... é o que espero...rsrs
Demorei a responder ao desafio da
Carol, feito em 10/05, não apenas por estar ocupadíssima e sem tempo para escrever, mas também pelo fato de não ser fácil elencar cinco manias, isso sem contar que não é fácil distingui-las dos defeitos ou das qualidades... O fato é que não é fácil parar pra pensar em si próprio e a forma como se tem caminhado nesta jornada chamada vida...

Então lá vai, as Top 5:
1. A primeira, até meio incomodativa, é a mania de escrever “quase” tudo em papeizinhos pequenos: telefones (sem colocar o nome da pessoa ou lugar, é claro), recados, idéias, e-mails, compromissos, endereços de sites, etc, etc, etc...
Não que eu não tenha agenda... tenho sim. Duas. Mas o fato é que obsessiva e compulsivamente, escrevo tudo isso em papéis de post-it, memo cards, inclusive com estampas da Hello Kitty ou do Snoopy (que charme...) ou qualquer cantinho mesmo, valendo até pedaços de envelopes ou cantinhos de contas a pagar... e vou colocando na bolsa... até que chega um momento em que a coitada quase não fecha mais... daí, pego um por um, o que é importante anoto na agenda (viram a utilidade dela?!?) e o que não é mais, jogo no lixo... e sinto-me muito aliviada por ter uma bolsa prontinha para voltar a encher novamente!!!

2. Não poderia deixar de mencionar a mania que tenho de ficar olhando pro nada e coçando a cabeça, tentando decifrar a vida e pensando nela... Não raro, vem alguém e me dá um tapa na mão... “Para com isso!!”... e eu olho bem pra pessoa e ignoro, voltando a coçar a cabeça, fazendo cara de indignação...

3. Mania de tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo... o que na maioria das vezes consigo, mas que nem todos têm paciência de presenciar... rs Acho que a verdade é que tenho mania de querer “abraçar” o mundo, ou seja, quero sempre aprender alguma coisa nova, trabalhar todo o tempo, conhecer pessoas e estar sempre em dia com tudo... isso pode parecer bom, mas nem sempre o é... muitas vezes, falta tempo para cuidar de mim mesma, meditar, respirar fundo, sentir a brisa da noite e observar as estrelas...

4. Mania de ser extremista, sim é sim, não é não. Não costumo dizer sim, querendo dizer não ou vice-versa (a não ser em situações especialíssimas, que prefiro não mencionar, rsrs) Sou extremista também nas relações pessoais, não dou beijo, abraço em quem não gosto, tampouco falo palavras carinhosas, não faço política nem pagando, não importa quem seja...

5. E assim como Maria (Milton Nascimento)... possuo a “estranha mania de ter fé na vida”... Acredito nas pessoas, no potencial que têm de serem melhores, na integridade do ser... é claro que já levei muitas rasteiras, mas mantenho pensamentos confiantes, rs.

Nossa! Nem acredito que consegui!!!
A verdade é que isso gerou discussões virtuais e reais, com todos querendo me ajudar a escolher as minhas, exemplificando as suas... Enfim... quem me conhece sabe que cinco manias é pouco para me definir... mas todo mundo também sabe que ser normal não é nada legal... e que de médico, advogado e louco, todo mundo tem um pouco! rsrs

16 maio, 2006

Estrelas














(Ilustração: Janelle Hughes)

Estrelas
Que encantam minha alma
Deixem-me tocá-las
Apenas por um instante

Deixem-me sentir
O poder da vossa luz
A imensidão do vosso encanto
A dualidade de vosso ser

Luz refletida nas copas
Destas mudas testemunhas
Transmutadas de sementes
Regadas pelo orvalho
das cadentes
Estrelas...

14 maio, 2006

Ser mãe















Ser mãe
É ser contagiada pela paz
É ser acometida de amor intenso
É ter todas as células cantando em uníssono
É ter lágrimas expressando o inexplicável
É ter sorrisos calando as surpreendentes descobertas
É ter todo o dia a certeza de que
Plantando a árvore
Ou escrevendo o livro...
Nada no mundo poderá chegar perto
Da alegria e insuperável emoção
De ser o ser da criação
Traduzida na palavra
Mãe

09 maio, 2006

Sofrimento

(Ilustração: oleo sobre tela - Ellen Reinkraut - "Pain & Suffering")


Sofrimento
combustível para o burilamento
pedra mestra das reviravoltas da vida.

Dor
Que toca os corações,
molda o caráter,
afina as cordas do espírito.

Através da dor,
muitos se unem,
muitos se perdoam,
muitos se reencontram.

Quem já sofreu,
Passa a valorizar o amor,
a união
e o equilíbrio.

A dor faz crescer, amadurecer.
A dor faz o amor se fortalecer.
A paz aflorar no mundo e dentro de cada ser.

03 maio, 2006

Um raio de sol



Nem sempre temos noção do significado das pequenas coisas da vida. Atos, palavras, pensamentos que transformam o universo. Posturas ante situações que, se pensadas, refletem mais do que gostaríamos de mostrar de nós mesmos...
A reflexão que se faz ao caminhar pode ser considerada uma das melhores terapias, verdadeira meditação do dia-a-dia.
Ana passava pelas pessoas, pelos lugares, muitas vezes sem os notar, submersa em pensamentos. Mas havia uma pessoa, que ela sempre notava. Um velho, mendigo, sentado no chão, ao lado de sua cadeira de rodas. Tinha um olhar tranqüilo e um meio-riso constante, os quais tornavam seu semblante um tanto curioso.
Duas vezes por semana atravessava aquela praça e, ao passar pelo velhinho, sorria. Dava um daqueles seus sorrisos mais bonitos. E ia-se embora.
Podia chover, que lá estava ele, com a mesma expressão fagueira e amistosa. E, muitas vezes, Ana sentia-se mal por não ter nada a oferecer ao tão sofrido senhor.
Certa vez, estava muito apressada e, como um temporal se anunciava, decidiu correr até seu destino... porém, ao passar pela praça, notou a ausência de algo. Parou, olhou ao redor, e notou que aquele bondoso e necessitado senhor não estava ali.
Deu de ombros, “deve ter ido se esconder da chuva”, continuou sua corrida.
Passou-se uma semana e a ausência dele a inquietava. Após vários dias úmidos e frios, Ana avista-o de longe.
Desta vez, além do costumeiro sorriso Ana pergunta-lhe a razão do desaparecimento. Este a responde com outro sorriso e depois completa: “Estava muito adoentado. Pneumonia. Quase não agüentei desta vez. Mas eu tinha uma razão muito forte para melhorar e voltar para cá”.
“E qual seria uma razão muito forte para alguém desejar voltar para as ruas, para mendigar?!”, pensou Ana, atônita. E arriscou perguntar:
“E que razão foi essa?”
“Não poderia morrer sem nunca mais ver o teu sorriso”...
Os olhos de Ana encheram-se de lágrimas, e seu coração parecia que ia pular pela boca... Como um estranho poderia dar tanto valor ao seu sorriso? Como um homem, aparentemente rude e ignorante, poderia ter tamanha sensibilidade?” Às vezes ela se achava meio boba, pois sorria para todos, inclusive desconhecidos... adorava sorrir para as crianças, pois estas, com a inclusão de alguns velhinhos, as únicas a rebaterem com outro.
Depois deste dia, Ana nunca mais o viu, mas a memória dele ainda vive em seu coração, principalmente por ter-lhe mostrado o valor de pequenos gestos, como o sorriso, que pode ser o único raio de sol na vida de um ser, que só quer ser humano...

02 maio, 2006

Ciranda da vida

Roberto acordou, sua cabeça doía. Olhou ao redor, buscou o marcador do relógio. Deu um salto! “Meu Deus! Perdi a hora!” Levantou-se, bufando, e entrou no chuveiro de pijamas mesmo. Sabia que não podia demorar mais, tinha uma reunião importante.

Cinco minutos, terminou o banho. “Cadê minha toalha?” Chamou sua mulher. Nada. Gritou pela toalha. O silêncio continuava. “Puta merda!” Foi buscar a toalha, batendo os pés e esbravejando.
Passou pela cozinha antes de sair, queria tomar um café. Mas... “onde está Marianna? Cadê o cheirinho gostoso de café que emanava pela casa todos os dias? E o pão quentinho recém buscado da padaria?”

“Deixa pra lá... estou com pressa”.

No caminho pro trabalho, lembrou-se de sua vida quando pequeno. Morava no interior, não tinha nada, não era nada. Resolveu tentar a vida na cidade grande. Foi quando conheceu Marianna.

Ela apareceu-lhe primeiramente em sonhos. Depois, em carne e osso. Parecia uma visão angelical... suave, serena, inteligente. Tudo o que sempre desejara em uma mulher. Perfeita. Perguntava-se como poderia tê-lo amado à primeira vista... Mas amou. E era sua mulher.
Pensava nas artimanhas que criou para mantê-la junto dele. Lembrou-se de todas as vezes que quis dizer-lhe que a amava, que ela era a mulher da sua vida, mas não sabia por quê nunca conseguia. A palavra engasgava. Trancava-lhe a garganta.

Por causa disso, plasmou uma barreira em torno de si. Foi aí que começou a perdê-la... Mas ele não sabia disso. Não queria saber.

Agora se perguntava por que estaria a pensar nisso. Logo hoje, que estava atrasado. Precisava se concentrar. Afinal, tinha uma reunião importante.

Marianna não havia lhe deixado bilhete. “O silêncio dirá tudo, pois no silêncio, cabe tudo. E nada”.

Quando voltou pra casa, transtornado pela reunião que não fora muito bem sucedida, pensou nos braços de Marianna, naquele abraço que tirava toda sua inquietação, naquela boca que beijava a sua como se fosse a primeira vez.

Mas Marianna não estava lá. Não havia cheiro de janta. Não havia seu perfume no ar. Tampouco suas palavras de amor.

O chão continuava manchado da água do banho da manhã. As flores estavam meio desmaiadas pelo calor e abafamento do apartamento. Marianna não estivera ali, constatou. “Será que arrumou um amante”?, perguntou-se.

A noite chegava e ele, sem notícias. Telefonou para o celular dela, mas o aparelho estava desligado. Ligou para amigos, nenhuma notícia. Encontrou o número de uma colega de trabalho e teve que sentar para conseguir digerir a notícia: “Marianna pediu demissão ontem pela manhã. Você não sabia?”

Roberto nem se despediu. Desligou o telefone e deixou-se ficar inerte, perdido em seus pensamentos. Refez os últimos passos da esposa. Lembrou-se do abraço e do silêncio da noite anterior.

“Marianna foi embora. Perdi seu amor, como ela havia me avisado.”

Por um momento, Roberto sentiu alívio. Não precisaria mais demonstrar força, poder. Não precisaria mais procurar as fraquezas na mulher para diminuir sua auto-estima. Não precisaria mais buscar motivos para mostrar-lhe que só ele poderia amá-la na vida.

Mas os dias se passaram, as roupas acumulavam no banheiro, estava definhando.
Porém, do que mais sentia falta era o perfume que Marianna deixava ao passar. Sua inteligência e habilidade em resolver problemas. A forma como ficava brava, com um leve tom róseo em suas bochechas. Sua indignação com a injustiça do mundo.

Não imaginava quão arrebatador era seu amor por aquela mulher.

Tentou buscar apoio nos amigos. Na boemia. Em outras mulheres. Nada preenchia o vazio do seu ser.

Já havia perdido vinte quilos. Já havia perdido a noção de tempo. Via Marianna em todas as mulheres, mas também não a via em nenhuma.

Entrou em desespero. Como continuaria a levar sua vida agora? Que detalhe havia perdido? Como não havia percebido o que estava a acontecer?

Só Marianna sabia a resposta.

Deitou-se na cama. Aquela mesma cama onde ainda havia resquícios do cheiro de sua amada. Aquela mesma cama onde dividiram, um dia, um amor incontido, inacabável, insaciável. Esperaria, ali mesmo, a resposta.

Mas ela não veio...

Em seu enterro, somente o padre e seu cachorro.

30 abril, 2006

28



















aniversariar
mais que comemoração
é ato reflexivo
onde se calcula, não a idade
mas as vitórias,
as alegrias,
as emoções,
os sentimentos...
hoje, no meu aniversário
penso em quão abençoada sou
por ter uma família maravilhosa
e amigos que encantam a minha existência...
************
Amigos queridos, vocês são muito importantes para mim!
Agradeço pelo carinho, dedicação e apoio.

28 abril, 2006

Pedra



pedra
não sei sentir-me
provável angústia adormecida
da imobilidade e inerte vida
não sei não ver o azul do mundo
que ao céu e ao mar faz renascer
a vida
é viva, e viva sou
ser pedra
ó dor!
não sei ser muda
inerte testemunha
do desassossego
destino cíclico
da existência

26 abril, 2006

Menina dos sonhos



menina dos sonhos
que acalento em meus braços
sugaste em meus seios
a seiva da vitalidadede
meu coração emana
incondicional amor
meus olhos brilham
com tuas descobertas
as fibras do meu ser cantam
ao encanto de tuas risadas
meu céu se ilumina de estrelas
com o estalo do teu beijo
e um arrepio corre o corpo
ao ouvir chamar-me
MAMÃE!

25 abril, 2006

A Desiludida

Entrou correndo e se jogou no sofá. Já não podia mais agüentar tanta inquietação em seu coração. “O que posso fazer?”, pensou. Sua mente estava um turbilhão. Não conseguia mais manter a calma... prolongar a decisão não adiantaria mais. Ficou ali, inerte, olhando para o nada.

Marianna tinha sonhos. Casou-se pensando que havia encontrado o amor de sua vida. Amar era, para ela, a entrega total e irrestrita da vida, a divisão de sonhos, alimento da alma.

Desde pequena sonhara em construir uma família, ter filhos, envelhecer ao lado do homem da sua vida... e agora, via todos seus sonhos desmoronarem e ela nada podia fazer para evitar que acontecesse o inevitável.

Como algo tão bonito poderia ter se desgastado tanto? Em que ponto da vida conjugal perderam o respeito mútuo?

Esperou que ele chegasse. Deu-lhe um longo abraço. “O último”, pensou. Roberto nem olhou para ela, queria mesmo era se alimentar e dormir. “Porco nojento”. Havia dias em que Beto só lhe dava atenção quando queria sexo, fazia rapidamente o que queria, virava pro lado e dormia. Marianna se irritava. Já não era a mesma. Não se reconhecia como a pessoa doce e suave que sempre fora.

Esperou Beto dormir. Pegou suas coisas que já estavam arrumadas em dois sacos de lixo, junto à porta, deu uma última olhada para seu passado. Virou. Respirou fundo.
Quando chegou na portaria, viu que o porteiro dormia. “Que bom”, pensou. "Não haverá testemunhas". Quando pôs o pé para fora, sentiu um alívio tão grande... parecia que renascia. O cheiro da noite adentrou suas narinas, como se fosse o primeiro sopro de vida.

Começou a andar apressada, como quem quisesse recuperar cada segundo de vida perdido. Na rua, não havia viv’alma. Apenas uns gatos passeavam sobre os telhados das velhas casas desbotadas pelo tempo. Assim se sentia Marianna, desbotada. Descolorida. Sem vida. “Mas isso vai mudar”, um sorriso apareceu em seus lábios. Apertou o passo.

Chegou na rodoviária. O próximo ônibus sairia em trinta minutos. “Pra quê escolher o destino? O destino nos escolhe”. Comprou uma passagem, “na janela, para ver a paisagem”. Entrou, sem nem ao menos ler o destino daquele velho ônibus, que mais parecia uma carroça velha. Na bagagem, roupas, alguns acessórios e muitos sonhos trancafiados por anos a fio.

Apesar do excitamento, estava tão cansada que não conseguiu esperar que o ônibus pegasse a estrada, caiu num sono profundo. Acordou com alguém cutucando seu ombro. “Ei, moça, já chegamos!”

Atordoada, Marianna olha ao redor, esfrega os olhos que teimavam não fixar as imagens... Nesse momento, um arrepio percorre cada milímetro do seu corpo.

“Mãe!”, grita.

“Como você sabia que eu chegaria? Peguei um ônibus qualquer, e...”

“Filha! Eu sabia que esse dia chegaria...”

“Mas, como?!?”

“Desde que fostes embora, venho todos os dias aqui, na esperança de te reencontrar. Já ganhei o apelido de ‘a Desiludida’, mas nunca perdi a vontade de esperá-la”.

Neste momento, Marianna descobriu que tudo o que precisava, era de um colo de mãe. Que tudo o que uma pessoa precisa, para ser completa, é ser amada por sua família e ter sempre pra onde retornar quando tudo dá errado na vida.

23 abril, 2006

Eu e os anjos...

(oil painting: "Guardian angels" - Patrick Gysemberg)

cada pedaço de mim
fortalece o meu ser
cada traço, cada ponto,
cada pinta, cada ruga...

sou desenhado dia a dia
pela própria vida minha
sou pintado com as cores
que eu mesmo plasmo
na aquarela dos sonhos...

a luz que as destaca
é própria dos anjos
que, ao passarem, convido
perto de mim ficarem

e estes, ficam tempo
necessário a me ensinar
que a luz que deles emana
meu ser também pode emanar
pois luz é amor desejado
é abraço ofertado
é palavra em flor!

22 abril, 2006

A Pedra da Realidade

A Pedra da Realidade: “Para sonhos de papel / o peso / da pedra da realidade”.
Assim começa uma viagem sem retorno ao mundo da realidade poética, pintada por CC.
São poesias com contextos realistas traduzidos em tons intimistas, apresentando o cotidiano, o sexo, a vida, com humor e muita beleza.
Jogos de palavras, brincadeiras com a rima e poesia visual convidam à reflexão e ao prazer.
Sua poesia transcende ao papel. Alça vôo. E com ela, a imaginação do leitor.
Como se tudo isso não bastasse, um charmoso livro feito em casa, pelas mãos do próprio autor... e autografado, claro!!!
Parabéns, CC e... muito sucesso!

20 abril, 2006

Tambores do coração













Tum tum
Retumbam os tambores
Do meu coração
Segue ritmado o compasso
Antes em descompasso
Pelos desconcertos da vida
Tum tum

19 abril, 2006

Lua


(Ilustração de Andy Williams: Full Moon over la Corbiere Lighthouse - Jersey/England)

Lua
Inspirada em ti
Subo ao céu
E vejo
Quantas belezas
Há na terra
Belezas banhadas por tua
Luz
Belezas presentes dos céus
aos homens
Os mesmos homens
Que a destroem
Os mesmo homens
Que a corrompem
Os mesmos homens
Que fecham as janelas
E nem te notam...
Ó, lua
Inspirada em ti
Subo ao céu...

18 abril, 2006

(oil on canvas: Ganushkevich Tsezariy - Friends)


Aquele que pensa que os amigos de infância foram os que mais importância exerceram na vida estão enganados.
Primeiro, porque amigos são importantes sempre. Em todas as fases da vida.
Segundo, porque quando crescemos é que mais precisamos de pessoas
que pensem como a gente, ou não...
que nos dêem puxões de orelha quando precisarmos...
que nos emprestem o colo quando nossa mãe já não está mais ao nosso alcance...
que nos dêem conselhos gratuitos...
que nos emprestem um livro...
que nos amem, apesar dos nossos defeitos...
que nos critiquem quando necessário, para que cresçamos...
que nos dêem dicas de um bom filme, ou simplesmente assistam a ele conosco...
que nos façam sorrir e nos lembrem que vale a pena lutar pela vida!
Os amigos nos fazem perceber que os laços de amizade, amor, carinho e afeição, necessitam apenas do olhar, do cuidado.
Com certeza, amizade é um tema recorrente para todos os poetas e escritores em geral, pois sem nossos amigos, não teríamos inspiração...

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Sei que todo o dia é dia de celebrar a amizade e o amor, mas hoje, em especial, deu um apertinho no peito ao pensar nos amigos que eu tenho na vida... reais... virtuais... próximos... longínquos... e em como é bom tê-los comigo a dividir essa jornada... que fiquei emocionada e resolvi escrever que AMO TODOS VOCÊS!!!

15 abril, 2006

Páscoa




















(oil on canvas: Easter and the Totem - Jackson Pollock)

Páscoa
É tempo de renovação
É tempo de afinar as cordas do coração
de repensar nossas atitudes
de transformar a amargura em felicidade
É tempo de nos unirmos e celebrarmos a fé no amor

Páscoa
Ritual de passagem para a vida,
É tempo do renascimento do Deus
que habita cada um de nós!

12 abril, 2006

Quero



Quero a doçura das crianças
A suavizar a vida
Quero a ingenuidade,
a alegria do descobrir
Quero a felicidade
estampada no sorriso aberto
A esperança no porvir

Quero a sinceridade
a conduzir o caráter
E a espontaneidade e franqueza
do agir...

Quero o brilho do olhar,
a acreditarna vida e no ser
Quero a certeza de estar
plantando a semente do bem
quero a simplicidade
e a integralidade

de viver

11 abril, 2006

Carta de um pai

(oil on canvas (1996): The Crying Old Man - Vladmir Fomin)

Meu filho,
Não vi te tornares homem!
Não vi teus primeiros passos, tuas primeiras palavras, teus primeiros machucados...
Não pude auxiliar com teus deveres na escola, tampouco pude estender meu ombro quando a vida foi dura e amarga contigo.
Não pude expressar o meu amor e nem a vergonha de não ter tido coragem de assumir minhas responsabilidades.
Vergonha por não ter sido homem, ser humano, quando chegada a hora de me posicionar... simplesmente parti.
Vergonha de não ter sido pai para ti. E o arrependimento mostrou-se a mim todos os dias da minha existência, através de lágrimas e amargura.
Hoje, só o que peço, se é que algo me é permitido pedir, é o perdão.
Perdão! Por todas as vezes que faltei na tua vida, por todos os sentimentos que não pude demonstrar e também por aqueles que não tive.
E quando, finalmente, puderes me perdoar, serás também melhor pessoa, e melhor pai.

10 abril, 2006

FLOR MORTA DO ACASO

Postagem excluída por morte súbita

09 abril, 2006

Criança















www.friends-international.org

Criança

Traz ao mundo
alegria ao descobrir
as coisas simples da vida
um simples gesto de adeus
um simples beijo na mão
um simples olhar atento

Criança
Faz adultos parecerem
aprendizes...
das coisas simples da vida!

07 abril, 2006

Álbum de Fotografias






Fotografias
Pétalas do tempo
Eternos sorrisos e lágrimas...
Momentos imóveis
esperando serem revividos
Amadas gentes imortalizadas
que já se foram
ou que ainda estão a enfeitar a vida...

Folheio, relembrando cada cheiro, cada toque, cada olhar
Os lugares por onde passei são como células a completar meu corpo
As pessoas que conheci são como flores a enfeitar meu jardim
O sabor da novidade, mantém-se presente em minha boca
Os sons da vida, ecoam nas conchas aos meus sentidos
Dos sentidos, mais um renasce, o das lembranças
Os pensamentos são vaga-lumes, na escuridão do nada, surgem e iluminam os registros do meu ser
Minhas fotografias são o passado, tesouros do maior presente, a vida.

05 abril, 2006

Carta ao meu eu do passado


Se você pudesse receber essa carta que lhe escrevo agora, provavelmente ela não existiria... pois você teria vivido plenamente... deixo claro, porém, que não me arrependo do que fiz, somente acho que poderia ter feito mais...

Aproveite melhor a sua infância, pois quando crescemos adquirimos, a cada dia, mais e mais responsabilidades, o tempo parece que passa mais ligeiro, a cada dia você terá menos lazer e prazer e muito mais trabalho e problemas. As pessoas não farão amizades tão facilmente quanto as crianças. Será muito mais difícil explicar seus sentimentos e expô-los... quase impossível... Irão taxá-la de idiota se você simplesmente quiser abraçar alguém. Se quiser pedir algo emprestado, deverá dar uma explicação completa. E quando quiser dar sua opinião, não poderá ser espontânea, deverá utilizar máscaras, pois o homem adulto não está preparado para a verdade. A verdade lhe dói mais do que cortes, machucados. E não fazer seus deveres implicará em muito mais do que castigos...

Aproveite mais a adolescência, pois rebeldia depois dos 18 não é mais admissível. Namorar vai ficar mais difícil e trará conseqüências insuportáveis se você for intransigente... Aproveite agora para gritar os seus direitos, pois quando virar adulta, haverá muita burocracia, e você acabará tendo que apelar para o tribunal... Aproveite para telefonar para seus amigos, pois quando eles também estiverem grandes como você, ninguém terá mais tempo de falar e contar as novidades ao telefone, mal e mal deixarão uma mensagem enviada por computador.

Saia mais, tenha mais amigos, mais namorados, não seja tão tímida – a timidez faz com que você perca preciosas oportunidades de fazer amigos e conhecer pessoas que farão diferença na sua vida. Leia mais livros, pois agora você não tem mais tanto tempo livre para eles, e muitas vezes, saber sobre algum assunto faz falta pra você.

Não sonhe tanto com o futuro, viva mais o presente, pois um dia você irá lembrar quantas coisas você poderia ter feito e não fez.

Viaje mais e curta mais os lugares por onde passa... Não fique com vergonha de você mesma, pois é mais inteligente do que imagina e tem mais capacidade do que desejava ter... um dia você olhará para trás e verá que sempre conseguiu tudo o que queria.

Pense melhor antes de tomar decisões e utilize mais a razão do que o coração.

Tenha mais voz ativa quando estiver num relacionamento, pois tem tendência a se anular...

É impossível voltar atrás, espero que tenha compreendido meus conselhos, faça mais por você no presente... viva melhor e faça mais do que ter uma simples e ordinária vida.

Escrevo esta carta, para lembrar, que é sempre tempo de recomeçar...

03 abril, 2006

AUTO-RETRATO

(oil on canvas: "Self Portrait with a Beauty" - Sokolov)

Em pinceladas coloridas
Vou-me pintando pouco a pouco
Um dia pinto-me pássaro
que com asas brancas
risca o céu
Outros, pinto-me árvore
muda testemunha
da vida

Colorida ou em preto e branco
Aquela que eu pinto
feliz ou triste
boa ou má
Transcende às pinceladas
Eu saio da tela
Pintura anárquica
E modifico as cores dela!


Do-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó


















(Óleo sobre linho: The Ecstatic Generosity of Music – Joseph Coco)

Doce melodia do mundo
Restabelece a alma partida
Milagre criativo do homem
Faz a pele arrepiar, o corpo estremecer
Solta as amarras do ser
grimas rolam pelas cascatas do sonho
Sinal divino da transformação, pela
Doce melodia do mundo...

01 abril, 2006

Enquanto há tempo...

(oil on canvas: "Destiny" - Jennifer Kane)


Enquanto há tempo...
Beije quem você ama
Enquanto há tempo...
Abrace seus amigos
Enquanto há tempo...
Realize seus sonhos
Enquanto há tempo...
Curta muito seus filhos
Enquanto há tempo...
Aprenda novas lições
Enquanto há tempo...
Leia bons livros
Enquanto há tempo...
Viaje a novos destinos
Enquanto há tempo...
Diga “eu te amo”
Enquanto há tempo...
Seja feliz!
Enquanto há tempo...
Viva. Pois você nunca sabe
quando este tempo termina...
O destino é o presente
E o presente
é você quem faz!

31 março, 2006

Amar também se aprende




















Maluca!
Chamaste-me
quando disse-lhe
que te amavas...

Mas quando soubestes que o amor
era de tamanho incalculável...
Quiseste-o só para ti
foi então que começastes
a matá-lo...

Pois o amor não basta em si
Amor é pra ser dividido,
pra ser ofertado
Só assim o amor sobrevive...

30 março, 2006

Ventos de outono

(Hair of a Moon Wind - Kravcev)

Ventos de outono
Atacam o verão
Trazem chuva
Ao meu coração

Sufoco de março
Roupas nos varais da vida
Dançam nos ventos
de outono

Sopros de vida
Folhas em coreografia
Pétalas de mãos dadas
a bailar no palco do mundo

Poeira em redemoinho
balanço das saias
lençóis, em ola torcem
e aplaudem, as borboletas

29 março, 2006

O porquê da poesia

("Ogni giorno una poesia" - Roberto Fantini)

Ela surge
E toma, de assalto
O meu pensamento

Apossa-se
Dos meus sentidos
Aporrinha
O meu sossego
Como tempestade,
Deixa minha alma
Inquieta

Chamá-la?
Não adianta...
Ela quer vir
quando quer...

Pensá-la?
Não adianta...
Ela se forma
Como bem quer...

Quando vem
Parece que sempre
Esteve na cabeça
Mas, presa,
Deseja escapar...

E enquanto
Não te dou a liberdade
Ó, poesia
Ficas a me massacrar!

E eu te crio
Para buscar a paz...

Chuvas de março

















(oil on canvas: "After a rain" - Milen Skiart)

Chuvas de março
Lavam minh’alma
Molham o quintal da minha
seca vida
Refrescam meus pensamentos
Irrigam o jardim dos meus sonhos
Encharcam a terra adubada de estrelas
mortas, cadentes, latentes em meu peito

Águas, que
correm pelas calçadas
escorrem pelas faces
rosadas

No caminho
as pedras
imobilizadas
apenas lavadas
pelas águas
do incessante choro
do mundo...

26 março, 2006

Atropelei a vida




















(óleo sobre tela: "Fauve Flowers" de Martina Shapiro)

Atropelei a vida
Destino?
Escolhas...

Por medo de não ser nada... agi
Por medo da solidão... somei
Por medo da efemeridade... criei
Por medo da derrota... lutei

Agi. Somei. Criei. Lutei...
E venci!
Venci meus medos, meus demônios, meus anseios

Eu atropelei a vida
Não ela que me atropelou!

24 março, 2006

Vento...



Vento...
Devolva-me
a parte de mim
Que longe de mim
se encontra

Sou flor sem beleza
sou céu sem estrelas
sou gente sem paz...
Como vou seguir meu caminho?

Vento...
Leva somente a poeira
do tempo que estagnou
Limpa cada entrelinha
que a vida aniquilou

Laços




















(oléo sobre tela - George Hainsworth)

O laço da amizade
une presente,
passado
e futuro.

A amizade nos enlaça,
nos abraça,
nos completa.

23 março, 2006

Para Quintana



E agora, meu passarinho?
No céu estás
com os anjos à tua volta
Escutando teu versejar...

Potencial do ser




Um choro.
Nele, todo o potencial do ser.
Uma criança acaba de nascer...

22 março, 2006

Teatro



O que mais me espanta em teatro
é a capacidade do artista
ser mil personagens em um
sem ter crise de identidade

21 março, 2006

Labirinto



A vida, este labirinto
Cada caminho
é aventura e risco
Em cada curva,
o inesperado
Em cada pedra,
o aprendizado

Nem sempre o que parece é
Mas o que é parece diferente
Para os olhos de quem vê
Não na pele de quem sente

20 março, 2006

A morte do amor















O amor morreu.
Já não lembro mais onde enterrei.
Tampouco vi o momento em que partiu.

Apenas acordei
Sentindo sua ausência

Acordei do sonho de amor
Já não lembro mais onde encontrei
Tampouco vi o momento em que nasceu

Apenas acordei
Sentindo sua presença

Dormi um sonho de amor
Que pensava não ter fim

Como sonho é sonho...
Acordei, acabou, nem percebi!

19 março, 2006

Quem sou?

Desde o início
Sou meio
Sem fim...

Música

Música, arte dos deuses.
Emoção traduzida em palavras.
Alma transpirada em notas musicais.
Sentimento, ritmo, sinfonia.

Poesia para os amantes
Acalento às paixões impossíveis
Festeja a alegria das vitórias
Cura o acometido pela derrota

Melodia que conquista
Enredo que encanta.
Composição que contagia
O coração do mundo

17 março, 2006

Meu mundo



Existe um mundo, só meu

O amor não necessita explicações
É puro
Eterno

A amizade nasce sem barreiras,
sem fronteiras,
sem discriminação

A fé é inabalável
sem fanatismos
sem rotulações

No meu mundo
Todos são poetas
Todos são profetas
Somos igualmente
iguais e diferentes

No meu mundo
Não existe preconceito
Não existe falsidade
Não existe desamor
Nem inimizade

No meu mundo
Não há lacunas no tempo

Existe um mundo, só meu
Alguns o chamam Utopia

16 março, 2006

Amor, verdadeiro amar...



Assim nasceu meu amor,
Prematuro
Mal pude me preparar
Mas veio tão sutilmente
E transformou-me plenamente

Por tão pequeno
Pediu-me delicadeza
Por tão sensível
Pediu-me maturidade
Por tão indefeso
Pediu-me força e coragem

Assim nasceu minha amada
Isabella, tão sonhada
Do meu caminhar
A me transformar
A me completar

Sou mãe. Tão doce é amar!

Escrever é transcender

Escrever é uma paixão. Um vício.
É fuga e reencontro.
Escrevo para libertar-me

das palavras contidas na alma
pelas amarras do pensamento.
E ao libertar-me, surge o inesperado.
E o inesperado me transmuta, me transforma.
E eu renasço.
Escrever é transcender...