25 abril, 2007

Rosa-dos-ventos

soturna
morri mais de uma vez
entre os lábios
escarnecidos de sangue
colmatada por corvos em revoada
deixei-me levar
por entre serpentes e lírios do caminho
*
tua mão, era meu único leme
e teu odor, o porto onde sempre saberia regressar
*
dardejantes raios luminosos
resplandeciam do teu olhar
qualquer morte minha seria capaz de me cegar
mas tua contemplação ressuscitou-me do insano
*
profano delírio de altivez
salvaste-me outra vez
teu amor, a rosa-dos-ventos
nossas vidas, o mapa central
eu só sobrevivo por possuir uma bússola mágica
que busca em ti o norte, sempre que me vejo perdida
entre as serpentes e os lírios do caminho

20 abril, 2007

HAIKAI - imagem poética

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Esta imagem é do céu de Curitiba, eu mesma tirei a foto, da janela, ao cair da tarde. Maravilhosa, não?! Nada faria mais jus a ela do que um poema...

15 abril, 2007

Miséria - IMAGEM & POESIA




















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08 abril, 2007

Maria, mãe da vida

Maria

Mãe da vida

Em teu olhar perene

Volitam anjos candos de ternura

 

Oh, mulher, símbolo da seiva

Gana e garra que não me deixam esmorecer

Quando vejo quão acanhados

Os pequenos dilemas do meu ser

 

Perdestes teu filho para uma cruz de espinhos

sorristes pra Deus

mesmo aflita entre escarninhos

 

Maria

Mãe de mim

Pra quem um dia roguei

Não deixes partir

O meu ser bipartido

Que tão pequena nascera

Tão frágil, tão bela

Pequena quimera

que sonhei para mim

 

E tu, mãe das mães

Mesmo tendo perdido teu filho

Em nome dos filhos perdidos

Não me negou concessão

 

Hoje sou mãe

E sei, e sinto

A dor que sentistes

Ao ver teu filho, tão lindo...

Tão forte, tão cheio de vida

Cegado de luz

 

Maria

Seque teu pranto em meus ombros

Que te darei parte do meu coração...

06 abril, 2007

Segredos da Monarquia

Escondo-me sob o manto de rainha
Mas quero o súdito mais rude da corte
A penetrar meu ventre ordinário de mulher
Quero gritos de plebéias
Transpiração de rameiras
Gemidos de cortesãs
Que façam ecoar em meu ser as trombetas dos cavaleiros
A guerrear nas savanas do meu reino
Quero ser devorada como faisões de banquetes reais
Sobre colchões de feno
Nos currais

Dou meu cetro de poder
A quem, mesmo de soslaio possa
Retirar-me do mediterrâneo inferno
Que é viver
Sem uma centelha de prazer...

Vida em eclipse

Minhas mãos não são mais as mesmas

 

Desvendei o escuro

De um eclipse solar

De repente, a luz fez-se trevas

E no abismo de mim mesma

Vi ressurgir a seiva da verdade

 

Obscurecer é renascer

 

Qual curso de um rio

As linhas das mãos

Alteraram o rumo

Restou só a digital, irretocável

A sugerir a antiga identidade

02 abril, 2007

Assumi minha saudade


 
Assumi minha saudade
Sou pássaro de papada amarela e crista eriçada
Que com canto lamurioso, ao mesmo tempo que canta
Cerra os olhos, na tentativa de apagar do esquadro da visão,
Teu mágico semblante
Abre firme as asas e voa
Tentando esquecer teu toque

Assumo minha saudade
Quero chuva que carregue
Pelas ladeiras das vias imundas do meu irrequieto ser
A lembrança do teu sorriso
Que torne espaço em branco o tempo gasto
no ninho aconchegante de teus braços
Quero tempestade tão forte
Que meus ouvidos não escutem mais o eco
Da batida do teu coração
Registrada no túnel invisível que compus
Ao deitar minha cabeça no teu peito nu

Mas tudo isso é em vão
meu amor é tão forte, tão pedra, tão aço
E a saudade me tomou de tal jeito
E você é tão parte de mim
Que já não sei que parte sou eu e que parte é você
Só o que sei é que conheço
Cada cor, cada cheiro, cada pedaço de aconchego

E fria é a estrada em que hoje perambulo
Pois não tenho teu calor pra me aquecer
E na escuridão em que me encontro,
só a luz do teu olhar faz encontrar meu caminho
Você pode ter partido pra longe do meu corpo
Mas não pra longe do meu coração
Que, ao invés de encolher, cresce ainda mais
Descobri onde esta estrada vai dar
Pra você vai me levar
O amor não partirá

Libertação

 
Pedi um par de asas
E num dia lilás me foram concedidas

(não cheguei a tocá-las)

Negro véu me foi cedido
Para velar minha quimera rasgada em semente
Arrancada em botão

Cinzas ao vento
Sujaram as roupas do varal
O que importam os motivos?
Se os ignora... (Ditador de luz!)

Alforriei-me de teu subjugo
Enquanto sujas tuas mãos
Cavando buracos na terra
Em busca de tesouros e riquezas
Enquanto transpiras em tua face
Correndo atrás das borboletas
E me negas as asas
(Abortador de sonhos),

Não te esqueças que sou feliz,
e não preciso mais de ti
Pois livre sou
E com minha liberdade
Posso agora plasmar minhas próprias asas
E colorir minha própria paisagem

Não careço ouro jóias pedras preciosas ou diamantes
tampouco buscar em lepidópteros minha alegria
porque em mim habita tudo que preciso
eu, metamorfoseada,
transformei-me
de repugnante e asquerosa
larva escrava
em uma linda e colorida
borboleta

por isso...
fique com tuas asas
elas pra nada te servem
de que adianta um par de asas
para quem nem em devaneios sabe voar?...