15 novembro, 2008

Doçura do meu fel


instiga-me
a retirar o véu
mostrar-lhe a alva doçura
do meu fel
desvendada entre quatro paredes
ou entre terra e universo
por dentre estrelas cadentes

faz-me iluminar
por entre curvas
que me cercam
procura a que te leve
ao jardim
de escondidos paraísos
lá onde habitam
meus mais recônditos
desejos inda não ditos

depura-me
em linhas de sins e de ais
e me cala
no momento de ápice da explosão
em que tudo se sinta
mas não se possa ouvir
e o corpo estremeça
em torpor
de amortecimento e calor
voltando, lentamente,
a ser o que jamais foi
mas que aparentemente
assim o era, assim o foi:
um precipício lançando-se
ao céu!

Ganhe asas...
E retorne em aconchego e calor!

14 novembro, 2008

Pietra


Ela nunca havia pensado em transgredir as regras impostas por seu ego. Desde pequena fora, assim como seu nome, uma rocha em tudo que acreditava. Demorava a modificar seus padrões de conduta, tomava como certo, demasiadas vezes, a verdade de seus pais. Pietra não sabia quão árduo seria encontrar sua própria verdade..

Redescobriu-se pensando que, talvez, devesse caminhar, desta vez, traçando seu próprio caminho. Chegava a titubear e pensar como é difícil ser "gente grande". Para ela, seria mais fácil contentar-se em seguir a verdade dos outros, mas uma voz lhe dizia que precisava sair daquele parco mundo onde havia se instalado, para que pudesse ser mulher integral. Apesar de todos os caminhos que havia trilhado por conta própria, sentia-se ainda retalhada, petrificada em seus devaneios de quem quer voar, mas não possui asas maduras.

E Pietra queria voar...

Nem sempre transgredir regras é imoral, refletira, por fim. E um novo ensinamento alevantou-se em sua mente. Precisava contemplar-se crescendo... e foi neste momento que retirou suas máscaras, como se fossem aleijões que a impediam de ver a si própria, mais que aos outros. Removeu seus próprios presságios, suas fantasias e medos. Verificou, por fim, que não haviam ditas regras em seu coração, portanto, transgressão alguma haveria.

Pietra dormiu em paz, sentindo que um novo destino a esperava ao amanhecer.

01 novembro, 2008

Miniconto


Ela e toda sua essência deixavam-se cair sobre seu colo. Naquele momento, não se importaria se todos os pássaros deitassem em revoada e a carregassem ao céu... A morte, não faria o mínimo sentido.

Ninguém consegue viver com tanto veneno... a verdade liberta... o frio seduz apenas os libertinos...

Pensava que nos arredores de suas imagens fractais, apenas um ser conseguira aproximar-se da verdade de suas horas mais inóspitas. E era dele o colo no qual realmente conseguia descansar suas máscaras.

Genuinamente, pensara, não há coração sem razão a lhe oferecer paz. E neste momento ela chorou.

11 agosto, 2008

Gotas Encantadas

wet body by WhiteLotos www.deviantart.com





descem por um vendaval
de curvas molhadas
em direção ao ventre

gotas, encantadas por
intocada orquídea
que não perdoa
quem a toca à toa

em gotículas, seguem
auspiciosas e itinerantes
e gemem, pelos
portais
do Éden

09 janeiro, 2008

Interroguei minha alma

Instalação de Luiz Antônio Chiquitão

Interroguei minh’alma livre
de teimosas ambições consolidadas
se no oposto do abismo
da costura me quisera

Disse-me apenas
haver de querer ouvir os pássaros
com líricas pretensões empertigadas
fazendo ninhos onde o azul alça suas nuvens
entrecruzadas por fios de prata machucados
*
Juntei pedaços de rancores de outras datas
não os colei pra que não renasçam pós-enterro
cantei um solo, bem chorado e marcado
e enterrei as ilusões a sete palmos e ao avesso

Teus Dedos

by Torsten Brandt


Teus dedos
Ansiando conhecer
Minha geografia
Fizeram-me rodopiar
Qual zonza e bêbada menina
Num vai-e-vem que me fez ouvir
Teu som como se fora música
Senti o toque de tua arfante respiração
E quis dançar no ritmo do balanço
Do arpejo do teu coração

Subi as escadas de uma ilusão
Fui buscar um gozo quase em profusão
Pontas dos dedos
Fizeram-se sentir
Em cada curva do meu corpo inerte
Entregue inteiro ao teu toque imberbe
Fazendo-me tremer da cabeça aos pés

Senti minhas forças sucumbirem
Levou-me a paraísos sem matizes
Só vi a negritude de uma explosão de prazer


Sinta-me
Sou pele que semeia arrepios
Sou carne que te causa calafrios
Sou energia que transpassa
Racionalizações