28 setembro, 2010


No primeiro ato, as cortinas se abriram e ela admirou a platéia. Tons surdos a abraçaram nos segundos que precederam o beijo. Calmaria. Pareceu-lhe que deus criou o mundo com a mão esquerda e abstraiu o íntimo das ruas em convulsão, ao final do dia. Seguiram-se aplausos, tombados pela tragicofilia coletiva. Paradoxos. Viu-se a própria Carmem [de Bizet]. Todavia, percebeu-se apaixonada. Ar-re-ba-ta-do-ra-men-te. Não era hora para mimeses de encanto. Minutos suspensos. Cerrou os olhos para dedilhar os vapores se esvaindo de sua promessa romântica. Encontrou forças e fechou as cortinas antes do último ato. Virou-se sem olhar pra trás pra retornar ao seu deserto epicuriano.

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