
A poesia é minha morfina. Mas o ciclo do seu nascimento só se finda quando ela for lida.
25 abril, 2007
Rosa-dos-ventos

20 abril, 2007
HAIKAI - imagem poética
15 abril, 2007
08 abril, 2007
Maria, mãe da vida
Maria
Mãe da vida
Em teu olhar perene
Volitam anjos candos de ternura
Oh, mulher, símbolo da seiva
Gana e garra que não me deixam esmorecer
Quando vejo quão acanhados
Os pequenos dilemas do meu ser
Perdestes teu filho para uma cruz de espinhos
sorristes pra Deus
mesmo aflita entre escarninhos
Maria
Mãe de mim
Pra quem um dia roguei
Não deixes partir
O meu ser bipartido
Que tão pequena nascera
Tão frágil, tão bela
Pequena quimera
que sonhei para mim
E tu, mãe das mães
Mesmo tendo perdido teu filho
Em nome dos filhos perdidos
Não me negou concessão
Hoje sou mãe
E sei, e sinto
A dor que sentistes
Ao ver teu filho, tão lindo...
Tão forte, tão cheio de vida
Cegado de luz
Maria
Seque teu pranto em meus ombros
Que te darei parte do meu coração...
06 abril, 2007
Segredos da Monarquia
Mas quero o súdito mais rude da corte
A penetrar meu ventre ordinário de mulher
Quero gritos de plebéias
Transpiração de rameiras
Gemidos de cortesãs
Que façam ecoar em meu ser as trombetas dos cavaleiros
A guerrear nas savanas do meu reino
Quero ser devorada como faisões de banquetes reais
Sobre colchões de feno
Nos currais
Dou meu cetro de poder
A quem, mesmo de soslaio possa
Retirar-me do mediterrâneo inferno
Que é viver
Sem uma centelha de prazer...
Vida em eclipse
Minhas mãos não são mais as mesmas
Desvendei o escuro
De um eclipse solar
De repente, a luz fez-se trevas
E no abismo de mim mesma
Vi ressurgir a seiva da verdade
Obscurecer é renascer
Qual curso de um rio
As linhas das mãos
Alteraram o rumo
Restou só a digital, irretocável
A sugerir a antiga identidade
02 abril, 2007
Assumi minha saudade
Sou pássaro de papada amarela e crista eriçada
Que com canto lamurioso, ao mesmo tempo que canta
Cerra os olhos, na tentativa de apagar do esquadro da visão,
Teu mágico semblante
Abre firme as asas e voa
Tentando esquecer teu toque
Assumo minha saudade
Quero chuva que carregue
Pelas ladeiras das vias imundas do meu irrequieto ser
A lembrança do teu sorriso
Que torne espaço em branco o tempo gasto
no ninho aconchegante de teus braços
Quero tempestade tão forte
Que meus ouvidos não escutem mais o eco
Da batida do teu coração
Registrada no túnel invisível que compus
Ao deitar minha cabeça no teu peito nu
Mas tudo isso é em vão
meu amor é tão forte, tão pedra, tão aço
E a saudade me tomou de tal jeito
E você é tão parte de mim
Que já não sei que parte sou eu e que parte é você
Só o que sei é que conheço
Cada cor, cada cheiro, cada pedaço de aconchego
E fria é a estrada em que hoje perambulo
Pois não tenho teu calor pra me aquecer
E na escuridão em que me encontro,
só a luz do teu olhar faz encontrar meu caminho
Você pode ter partido pra longe do meu corpo
Mas não pra longe do meu coração
Que, ao invés de encolher, cresce ainda mais
Descobri onde esta estrada vai dar
Pra você vai me levar
O amor não partirá
Libertação
E num dia lilás me foram concedidas
(não cheguei a tocá-las)
Negro véu me foi cedido
Para velar minha quimera rasgada em semente
Arrancada em botão
Cinzas ao vento
Sujaram as roupas do varal
O que importam os motivos?
Se os ignora... (Ditador de luz!)
Alforriei-me de teu subjugo
Enquanto sujas tuas mãos
Cavando buracos na terra
Em busca de tesouros e riquezas
Enquanto transpiras em tua face
Correndo atrás das borboletas
E me negas as asas
(Abortador de sonhos),
Não te esqueças que sou feliz,
e não preciso mais de ti
Pois livre sou
E com minha liberdade
Posso agora plasmar minhas próprias asas
E colorir minha própria paisagem
Não careço ouro jóias pedras preciosas ou diamantes
tampouco buscar em lepidópteros minha alegria
porque em mim habita tudo que preciso
eu, metamorfoseada,
transformei-me
de repugnante e asquerosa
larva escrava
em uma linda e colorida
borboleta
por isso...
fique com tuas asas
elas pra nada te servem
de que adianta um par de asas
para quem nem em devaneios sabe voar?...